NOSSOS VÍDEOS

sexta-feira, 19 de junho de 2020

COMO ENCARAR O NOVO NORMAL



"Como encarar o 'novo normal' e seus desafios psicológicos", por Andréa Ladislau, doutora em psicanálise


A pergunta que muitos se fazem é: qual realidade nos espera após o confinamento? Durante a quarentena, estamos sendo obrigados a conviver com um cenário bem diferente do habitual. Restrições de contato físico, utilização de máscaras, cancelamento, adiamento de encontros socias (festas e shows) e viagens, aulas virtuais, implantação da modalidade home office, entre outros. Enfim, mudanças drásticas tanto na vida pessoal quanto profissional. Ainda dentro dessa análise, destaco a real necessidade de alteração em muitos planos de vida. Casamentos adiados, mudanças canceladas e até a convivência com nosso pior pesadelo: as perdas de pessoas próximas ou conhecidas. Milhares de vidas ceifadas por uma tragédia que ainda assola nossa humanidade.


O termo “Novo normal” tem sido amplamente divulgado, referindo-se a volta à realidade diante das mudanças profundas em nossas rotinas e hábitos. Algumas delasm inclusive, já dão sinais de que vieram para ficar - enquanto outras desempenham um caráter transitório e necessário.


No entanto, esses novos tempos exigem do ser um humano pitadas de tolerância à frustração, cada vez mais necessárias para que seja possível encarar a perda ou o cancelamento de projetos - muitos, inclusive, planejados e pensados há muito tempo, mas destruídos por um virus que trouxe medo, angústia, incerteza e pânico.


Sempre quando nos vemos perdendo o controle do que nos é externo, tendemos a entrar em um processo de tensão e ansiedade e, consequentemente, descontrole do nosso interno. Conviver com o fato de que nem tudo que é planejado será realizado pode ser bem aceito por uns e ser encarado com grandes dificuldades por outros. Houve, portanto, uma imposição à novas adaptações de maneira inédita e repentina.


Constatamos, da pior maneira, que não temos controle sobre nada. Descobrimos um novo mundo interno (ou diria velho mundo interno?) que exige do indivíduo muito mais sanidade e equílibrio, sem fugir da realidade. Conciliando mundo interno com mundo externo de forma saudável.


A consciência de toda esssa nova circunstância remete à lições adquiridas e à reflexões profundas que desnudam o sentido de humanidade. Sabemos que as experiências que mais nos transformam são aquelas das quais desejamos fugir. Sendo assim, encarar as trasnformações de frente, sustentar e dialogar com suas emoções e desconfortos internos, sem se identificar com eles e sem negar o que sente, são dicas preciosas para conseguir explorar os novos cenários, novos hábitos e os novos posicionamentos. Mas cabe ressaltar que, para a psique, não existe certo ou errado, normal ou anormal. Existe a realidade particular do indivíduo alicerçada por seus valores, desejos e sua bagagem pessoal. Mas o “Novo Normal” que estamos prestes a vivenciar é o legado de uma pandemia que mudou a vida de todos e implantou novos hábitos, passageiros ou definitivos.


Neste momento, fazendo uma análise deste impacto. A paciência e a tolerância serão muito mais exigidas para a manutenção do equilíbrio emocional. O nosso maior desafio, certamente, será aprender a tornar esse “Novo normal” em um “Normal melhor”. A desestruturação dos comportamentos e a ação aniquiladora das certezas, trazidas pelo Covid 19, deixarão marcas em toda a humanidade. O que vamos fazer com essas marcas e como iremos conviver com elas é que será a grande sacada de sucesso para o equilíbrio psíquico de cada um.


No entanto, tenho boas notícias: se somos seres adaptativos, o “Novo normal” pode, facilmente, fazer parte de nossos dias. Enfrentar as muitas realidades impostas pós pandemia será um desafio individual - e como temos uma infinita capacidade de sermos resilientes, afetuosos e empáticos, podemos, sim, fazer o melhor uso do verbo ressignificar. Sabemos que a vida não é estática e as mudanças internas e externas serão constantes ao longo de nossa trajetória. A crise demonstrou que a valorização dos detalhes e dos pequenos prazeres modificou nosso olhar.


Além disso, também fica evidenciado que a mudança e a aceitação de uma nova maneira de dialogar consigo mesmo, aceitando e respeitando seus desejos , sem dúvidas já demonstram o começo das novas mudanças, arriscando até a dizer: não há mais espaço para dramatizações, mas sim para adaptações. Adaptações que levem o ser a encontrar meios para dominar suas emoções e eliminar fragilidades que levam a desestruturação emocional, alimentando transtornos psíquicos destrutivos à mente humana. Enfim, novos tempos, novas chances para desconstruir conceitos e formatar novos empoderamentos pessoais. Tudo vai depender da forma como cada um irá encarar a nova realidade que se desenha após toda a tempestade que estamos enfrentando.




quarta-feira, 17 de junho de 2020

Sonhos adiados ou “repaginados”?






Texto: Adriano Gonçalves


A vida seguia seu curso como um rio que teria destino certo, o mar. Porém, algo acontece, o curso é mudado, pedras surgem pelo caminho e aquilo que estava certo – o deságue do rio no mar –, de repente, não é mais tão certo assim. Surge a incerteza, os planos e sonhos ficam suspensos. De fato, a pandemia desconfigurou os sonhos de muitas pessoas, se não de todas.

Como planejar a vida após a pandemia? O que é possível colocar no papel agora para daqui alguns anos? Diante de tantas incertezas sobre o que ainda iremos passar, como reservar um espaço aos sonhos adiados? Será que adiar é a única opção ou podemos “repaginá-los” e contá-los de outra forma?

Pessoas que iriam se casar, pretendiam ter filhos, preparavam-se para escolher uma graduação... Devemos reservar um tempo a estes sonhos ou esperar a tempestade passar para voltar a planejar? Precisamos nos ater a alguns pontos para respondermos estas perguntas.

Sem presentificar a vida não se pode ter olhos na realidade. Adiar nem sempre é a única opção, podemos “repaginar”; sonhos que não tenham eco de eternidade não subsistirão. E, quando falo de presentificar a vida, falo de uma postura que não nega a realidade, mas a abraça, traz nas mãos o real do presente, sem fuga para o trágico nem para o negacionismo. Presentificar a vida neste momento é torná-la presente, sem tentar fugir para o passado, que não existe, ou para o futuro que se mostra incerto.

Sonhos precisam ter raízes no presente. Por exemplo, ter um filho ou não na pandemia? Peraí, isso está em suas mãos? Não! Pois, quem os dá é Deus. Você pode querer e não tê-los, não querer e tê-los. Presentificar é viver a vida com tudo que ela é. Assumindo as consequências da própria realidade.

Quais são as realidades que você tem “domínio”? Essas podem ser presentificadas. Há outras, como o exemplo acima, que lançamos na aventurosa imprevisibilidade da própria vida.

Ao presentificar a vida, podemos olhar para os sonhos e responder: adiar ou “repaginar”? Nem todo sonho precisa ser adiado. Muitas pessoas que estavam com data marcada para o casamento me perguntaram se deveriam adiar ou fazê-lo com poucas pessoas. Eu disse a algumas que, para mim, o importante era o sacramento, e não a festa. Algumas fizeram o casamento somente com o padre e mais duas testemunhas, o sonho foi repaginado. Há sonhos que precisarão ser adiados e planejados no tempo, e há outros que podem se tornar realidade só mudando alguns detalhes.

Esta pandemia nos mostrou que tudo perece, nada na realidade tem infinitude nesta terra, somente na eternidade. Por isso, nossos sonhos precisam ser questionados se são somente para um prazer neste plano ou ecoarão na eternidade e na posteridade. O que sonho, tem fim último na contemplação da verdade e na bondade? Ou é somente fruto de meu narcisismo? Aproveite este texto para pensar se seus sonhos precisam ser adiados ou “repaginados”, ou até cancelados, pois sonhos que não tem eco na eternidade não subsistirão!


*Adriano Gonçalves é missionário, formado em filosofia e psicologia. É autor de três livros pela Editora Canção Nova: “Santos de Calça Jeans”, “Nasci pra dar certo!” e “Quero um amor maior”.

Twitter: adriano_rvj
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