Era um sábado cheio de expectativas, pois Maria havia
decidido consagrar a Ayahuasca novamente. Ao acordar pela manhã, ela realizou
suas tarefas e partiu com seu marido para encontrar seus novos amigos naquela
Terra Sagrada.
Suas expectativas eram altas, mas também havia um certo
receio em relação aos possíveis efeitos colaterais da "cura" que os
xamãs mencionavam, como enjoos e desconforto intestinal. No entanto, ela sentia
que deveria enfrentar o processo que estava por vir.
Ao chegar ao local, o casal foi recebido com alegria e
respeito pelos novos amigos. Como não eram mais novatos, não precisaram passar
por triagens ou orientações. Muitos dos xamãs mais experientes estavam vestidos
de branco, usando colares e guias que representavam suas experiências espirituais
na umbanda e sua formação xamânica. Os mestres que conduziriam a sessão,
portando cajados, guiaram os convidados até o terreno onde a celebração
aconteceria. Primeiro, os mestres auxiliares e os convidados já iniciados se
dirigiram ao local. Todos pegaram instrumentos de percussão disponíveis e
formaram um grande corredor humano pelos quais os recém-chegados passaram. Essa
dinâmica é conhecida como "Corredor da Gratidão".
Um dos mestres auxiliares explicou que eles deveriam
proporcionar aos recém-chegados a mesma recepção afetuosa e alegre que eles
próprios receberam em sua primeira vez. Para Maria, foi uma honra poder
participar dessa atividade, pois se sentia feliz por estar ali, mesmo sem saber
o que esperar em seu próprio processo de consagração da Ayahuasca.
Quando chegaram a um campo aberto, coberto por uma lona
ornamentada com estrelas, todos se sentaram separados por gênero, com os homens
de um lado e as mulheres do outro. O mestre xamã evocou a proteção de seus
guias ancestrais e começou a distribuir a poção para todos os iniciantes
presentes.
Segurando o cálice com a mão direita e orientados pelo
mestre, todos proferiram em voz alta a frase: "Eu consagro a
Ayahuasca" e beberam o líquido. Alguns minutos depois, o mestre xamã,
inspirado por uma força superior, pediu que todos os visitantes levassem suas
cadeiras e cobertores para a parte externa da tenda.
Lá fora, a natureza demonstrava sua divindade e
benevolência, com árvores centenárias emoldurando um céu estrelado. O mestre
xamã convocou um de seus auxiliares, chamado "Mestre do Fogo", para
acender uma grande fogueira no centro do terreno. Cerca de 50 pessoas estavam
presentes, sentadas ao redor da fogueira acesa, em silêncio por alguns minutos.
O que se ouvia eram os sons da natureza: grilos, vagalumes e a brisa suave que
balançava as folhas. O estalar das brasas na fogueira também era audível. Maria
percebeu que assim que a fogueira foi acesa, um pequeno sapo assustado saiu de
lá, mas ao notar a presença das pessoas, rapidamente se escondeu.
A Ayahuasca leva alguns minutos para começar a fazer efeito,
e durante esse curto período, com músicas inspiradoras e letras reflexivas,
Maria começou a sentir as mesmas sensações da primeira vez. Suas mãos começaram
a adormecer, um leve enjoo surgiu e seu intestino começou a fazer barulhos
estranhos. Maria pensou: "Ai meu Deus, espero não ter problemas
intestinais ou vomitar aqui...". Ao mesmo tempo, ela procurou onde seu
marido estava sentado e se perguntou se ele estava bem. Após alguns olhares,
viu seu marido sentado, tranquilo e concentrado nas palavras dos mestres e
auxiliares.
Novas músicas foram entoadas, e Maria sentiu seu corpo
congelar. Ela se cobriu completamente com seu cobertor, pois a umidade do
sereno na cabeça misturava-se com o calor da fogueira, que aquecia suas pernas.
Maria já estava imersa em sua consagração quando uma música
dedicada aos pais começou a tocar. Enquanto ouvia o depoimento de um dos
participantes sobre seu pai, Maria percebeu que precisava fazer algo por seu
próprio pai. Ela sabia que ele havia falecido longe da família e sozinho. Em
uma experiência anterior fora da Ayahuasca, Maria havia visualizado seu pai em
um lugar escuro, recusando ajuda dos amigos espirituais. Aproveitando a
oportunidade, Maria fez uma oração por seu pai e enviou-lhe energias positivas.
Após alguns minutos, durante uma música, Maria começou a ver
cores distorcidas e imagens incompreensíveis, o que a fez perceber que estava
saindo de seu estado normal de percepção. Quando decidiu abrir os olhos, deparou-se
com luzes no céu, surgindo e irradiando um brilho intenso. Essas novas luzes
juntaram-se às estrelas, e várias correntes luminosas interligaram todas elas,
formando uma imensa teia de energia iluminada.
Maria olhou para cima, para o alto, e percebeu que aquelas
teias possuíam formas geométricas fascinantes. Ela contemplou a cena, mas algo
dentro dela a instigou a aprofundar sua percepção. Sentiu-se grata, pois
começou a entender que a natureza da Ayahuasca estava revelando a ela o
funcionamento do sistema cósmico, invisível quando a mente não está expandida.
Maria compreendeu a teia cósmica que interliga todos os planetas e estrelas por
meio de correntes energéticas iluminadas.
"Preciso observar com mais detalhes", pensou
Maria. De repente, a teia iluminada e interconectada pelos feixes de luz mudou
de posição, permitindo que Maria visse uma imensa torre de energia composta
pelos feixes dessas teias, saindo do alto do céu, das luzes estelares, e
irradiando em direção à Terra, bem à sua frente. Essas ligações sutis não eram
tão brilhantes quanto as luzes celestes, mas assumiam diferentes formas
geométricas, de acordo com suas conexões.
Maria pensou: "Isso parece uma das naves espaciais que
vemos nos filmes, mas com uma diferença. Elas não são peças fixas em um sistema
voador, estão se movendo suavemente, como se flutuassem e observassem todo o
ritual que ocorre na dimensão de Maria ao mesmo tempo."
Agradecendo por essa visão emocionante, Maria se questionou
mentalmente: "Você é uma nave mãe ou várias naves flutuando aqui em
cima?" Imediatamente, uma resposta ressoou em sua mente: "Somos
várias naves compostas das moradas do Pai, que juntas formam uma nave mãe.
Estamos aqui para auxiliar os irmãos da Ayahuasca a compreenderem que tudo,
absolutamente tudo, está interligado."
Maria se emocionou profundamente enquanto sentia sua
respiração ofegante. Ela retornou aos seus sentidos ao escutar o chamado do
Xamã, convidando os participantes que desejassem tomar uma segunda dose da
poção. Maria pensou: "Não... não quero me desconectar dessa visão e desse
ensinamento, vou permanecer aqui..." Ela não queria parar de observar e
ver aquilo. Tinha descoberto que as energias inteligentes interplanetárias
sempre estiveram ao seu redor; ela simplesmente não possuía os olhos e a
abertura mental necessária para vê-las. Agora, sabia que mesmo quando não
estivesse sob o efeito da Ayahuasca, poderia ter a certeza de que essas
energias existem e sempre estarão presentes quando ela quiser se conectar a
elas.
Mais uma vez, o Mestre Anfitrião ecoou seu chamado,
permitindo que os participantes que desejassem falassem. Vários irmãos se
apresentaram com depoimentos e ensinamentos, que Maria ouviu atentamente, sem
desviar os olhos das luzes que permaneciam no céu. Um Mestre Cristiciísta muito
conhecido por Maria levantou-se e pediu a palavra. Surpresa com a atitude do
homem, Maria desviou sua atenção das naves para ouvi-lo.
O Mestre Cristiciísta pediu licença ao Mestre Xamã para
realizar uma das orações Cristiciístas diante do fogo sagrado. O Mestre Xamã
anfitrião concedeu permissão ao Mestre Cristiciísta, e este, olhando para o
céu, começou a entoar o que ele chamou de "Pai Nosso Cósmico" da
Ordem de Melquisedec:
"Pai de toda vibração universal, santificados sejam os
campos divinos de vibração superior. Venham a nós os mensageiros de luz, sejam
cumpridas as leis evolutivas, assim nas esferas superiores como nos campos em
transição evolutiva de vibração densa. O alimento espiritual de cada dia,
dai-nos para toda a eternidade. Perdoa-nos, santificando o tempo que levamos no
cumprimento de nossos resgates espirituais, assim como temos a obrigação de
perdoar nossos irmãos, que privados de maior compreensão, não conseguem, em seu
estágio atual de evolução espiritual, vibrar numa esfera superior e atingir
estados mais elevados de consciência, onde a sabedoria espiritual livra o homem
da condição de devedor. Não nos deixeis meditar sobre o que for contrário à
evolução do espírito, mas dai-nos a força necessária para gerarmos a força
necessária, a fim de possibilitarmos ao nosso espírito uma maior visão e uma
maior compreensão do plano da criação. Em nome do Pai da Criação, dos Filhos
Criados e dos Espíritos Puros, para a glória da missão superior."
Maria orou junto com o Mestre Cristiciísta, sentindo-se
feliz e orgulhosa por tê-lo como amigo íntimo. Em seguida, um mestre Umbandista
convidado participou da celebração com um defumador aromático. Vestido de
branco, com um turbante na cabeça, ele percorreu o salão balançando o
incensário de ferro grosso e emanando a fumaça sagrada, benzendo os mestres e
aqueles que se levantavam para receber a benção. Sob a luz das naves que Maria
contemplava no céu, os cânticos sagrados do umbandista ecoavam pelo salão,
manifestados com potência e sabedoria ancestral.
Durante esse momento mágico, Maria sentiu em seu corpo a
presença da Índia que havia se apresentado a ela em sua primeira sessão de
Ayahuasca. Ela permitiu que essa presença a assistisse através de seus olhos,
enquanto relaxava e permitia. Maria sentiu a Índia auxiliando na emissão de
energia captada das luzes das naves que seus olhos contemplavam.
Após a benção do mestre umbandista, a cerimônia seguiu com a
participação de uma terapeuta que tocou um sino com uma frequência sonora de
paz e união. À meia-noite, durante o encerramento com os agradecimentos do
Mestre Xamã anfitrião, as luzes ainda pairavam no céu. Maria percebeu que as redes
de luz deixaram uma impressão fraca em sua percepção. Em silêncio, ela se
reuniu com seu marido e juntos seguiram para uma confraternização, onde todos
celebraram com alegria suas experiências pessoais.
Enquanto observava seus amigos conversando e desfrutando de
pães, bolos, café e sucos, Maria refletia sobre como os seres humanos são
semelhantes às estrelas que acabara de contemplar. Ela concluiu que os seres
humanos, animais e vegetais formam uma rede atraída por semelhança e potência.
À medida que os seres se integram, formam correntes de forças, assim como as
naves que se uniram para formar a grande nave mãe em suas visões.
Maria compreendeu que o universo está se esforçando para
conscientizar e reunir as sementes estelares encarnadas na Terra. Juntos, somos
incubados em corpos de tamanhos e formas variados, mas com notáveis semelhanças
biológicas, frutos da criação do Deus Pai Criador, a Força Integrada dos
Elementos de Grau. Essa força está presente na centelha de Maria e em todos
os seres que habitam este e outros planetas, em várias formas biológicas. Todos
os integrantes da rede energética que conecta, transfere e compartilha
conhecimento em diferentes graus, definindo a escala de evolução dos seres e de
todas as consciências cósmicas.
Maria sentiu alívio por não ter tido incômodos orgânicos
durante a sessão e adormeceu feliz por ter testemunhado de perto aquilo que
sempre suspeitou que existisse. Ela se questionava sobre quais surpresas e
vivências a Anciã Ayahuasca ainda reservaria para ela.