No coração do exuberante sítio, sob o manto estrelado do céu, o ritual de ayahuasca começou pontualmente às 20h, estendendo-se até a meia-noite. O mestre da cerimônia, um respeitado xamã da cidade, conduziu cada etapa com força e sabedoria, imbuído do profundo conhecimento ancestral.
À medida que os participantes entravam em contato com o chá sagrado, durante o transe, eles passavam por uma série de estágios de conhecimento que poderiam desencadear reações de purificação orgânica, manifestadas por vômitos e diarreias. O xamã contava com a ajuda dos guardiões e guardiãs, que estavam presentes para auxiliar e proteger todos os iniciados nessa jornada transformadora.
Antes do início da cerimônia, breves palestras foram realizadas para informar a todos que, uma vez ingerida, a ayahuasca permaneceria infinitamente no organismo vivo, proporcionando uma conexão contínua com os espíritos da planta. Enquanto a celebração prosseguia, entoavam-se diversas músicas espirituais com o propósito de criar uma sintonia harmoniosa entre os participantes e as energias sutis do universo. O xamã evocou a presença dos guias médicos e pajés, solicitando sua intervenção espiritual na cura de todas as doenças.
Os guardiões e guardiãs, vestidos de branco imaculado, moviam-se pelo lado externo do círculo, reverenciando a natureza em sua magnificência. Por vezes, paravam para contemplar o céu em uma cena mágica de encantamento, em que a escuridão da noite contrastava com o brilho resplandecente de suas vestimentas. A entidade que habitava o corpo de Maria observava tudo com apreciação, sentindo a beleza do momento.
De repente, um tremor incontrolável começou a tomar conta das pernas de Maria, e uma voz interior lhe dizia para relaxar, pois aquilo fazia parte de um processo de "sacudimento" para realizar uma cura profunda. Quase no fim de seu transe, com o corpo gelado e agitado, Maria pôde perceber a aparição de uma figura imponente: um faraó com mais de dois metros de altura, usando um chapéu egípcio e vestindo uma bata preta com uma gola em "V" ornamentada com bordados dourados. Segurando altivamente um cajado, essa entidade, cujo rosto não era visível, movia-se de um lado para o outro, parecendo acompanhar o encerramento do ritual e proteger todos os presentes.
Enquanto o faraó enigmático preenchia o ambiente com sua presença majestosa, Maria sentia a intensidade da energia sagrada, compreendendo que aquela era uma bênção especial concedida pelo universo. Apesar do tremor e do frio que percorriam seu corpo, ela se entregava à cura e à transformação que aconteciam naquele momento.
Quando o ritual chegou ao fim, os participantes emergiram do transe, com o coração cheio de gratidão e reverência. Cada um levava consigo as memórias e os ensinamentos daquela experiência transcendental, prontos para integrar as lições aprendidas em sua jornada de vida.
No silêncio do sítio, as energias sutis continuavam a ecoar, testemunhando a conexão entre o mundo material e o espiritual, e reafirmando a força curativa e transformadora da ayahuasca.
Após a experiência reveladora, uma boa parte do grupo refletiu seus sentimentos e conhecimentos, aquecidos próximos de uma fogueira. O dia já estava amanhecendo quando Maria retornou ao lar, com espírito renovado, com a alma iluminada com luzes de sabedoria.
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